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Opinião
Quinta - 29 de Junho de 2023 às 04:39
Por: Décio Luiz Gazzoni

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Até recentemente, a expressão “alimentos funcionais” estava restrita ao círculo de iniciados no assunto, em especial profissionais das áreas de saúde e nutrição. Desde o final do século passado, o tema migrou dos laboratórios e congressos científicos para a mídia e, em pouco tempo, a discussão sobre alimentos funcionais e nutracêuticos ganhou espaço junto à sociedade.


O fenômeno não é isolado e nem aconteceu por casualidade. Ele está inserido numa profunda mudança de hábitos e costumes, uma revolução social que mudou os eixos de poder ao longo dos últimos 20 anos. A História ainda não cunhou uma expressão definitiva para designar o fenômeno que, nos Estados Unidos, é tratado genericamente como “consumer empowerment” ou “power to the people”. Entre nós, significa que o cidadão tornou-se mais consciente de seus direitos e exigiu para si parcela do poder de decisão sobre os hábitos de consumo, tendo como foco uma vida mais saudável. Inserem-se nesse contexto as exigências de qualidade e de inocuidade dos alimentos, um comportamento nascido na Europa, que rapidamente se espalhou nos demais países do mundo.


O que são Alimentos Funcionais?
Os dois conceitos mais aceitos são “Alimentos semelhante em aparência aos convencionais, consumidos como parte da dieta, que produzem benefícios específicos à saúde, além de satisfazer os requerimentos nutricionais” e “alimentos, em forma natural ou processada, contendo níveis significantes de componentes ativos biologicamente que, além da nutrição básica, trazem benefícios à saúde, à capacidade física e ao estado mental”.


Para ilustrar, consideremos o exemplo do arroz. O arroz integral possui um processamento mínimo, que mantém incólumes as substâncias que compõem o grão. Assim, o arroz integral possui alto teor de fibras - importantes para a regulação intestinal e da taxa do colesterol sanguíneo, de fitatos – que protegem o organismo da ação tóxica de metais pesados, de ácidos graxos insaturados, além das proteínas e vitaminas. Já o arroz processado perde a maioria destas substâncias durante a industrialização. Portanto, o arroz integral pode enquadrar-se na categoria de alimento funcional, o mesmo não ocorrendo com o arroz processado.

O impulso japonês
O uso de alimentos funcionais ganhou impulso no início dos anos 80, como parte de um programa de redução dos custos de seguro saúde no Japão, tendo em vista o aumento sustentado da esperança de vida da população. Em consequência, o perfil dos segurados passou a apresentar idade média crescente, sendo mais vulneráveis a determinadas doenças e distúrbios de saúde.


Para reduzir as despesas com medicamentos, foi implantado um programa denominado FOSHU (foods for specified health use), em que os alimentos deveriam ser baseados em ingredientes naturais; serem consumidos como parte da dieta alimentar; e cumprirem funções específicas no organismo, como:


a. melhoria dos mecanismos de defesa biológica (imunológicos);
b. prevenção ou terapia de alguma enfermidade ou disfunção;
c. melhoria das condições físicas e mentais e do estado geral de saúde; e
d. retardo no processo de envelhecimento orgânico.


O programa FOSHU é administrado pelo Ministério da Saúde e Bem Estar do Japão, em cujo registro constam mais de 100 produtos com característica de alimento funcional (bit.ly/43pwuZd).
Embora já fossem consumidos no Ocidente, a partir da experiência do programa japonês, os alimentos funcionais ganharam um impulso extra, que aumentou sua demanda em todo o mundo, a qual deve crescer a taxas ainda mais altas nos próximos anos.

Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável.



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