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A Discussão Necessária
Cresce a discussão em torno do Bolsa Família. Isso se deu pouco depois da fala da presidente de que o Brasil é hoje “um país de classe média”. Frase de efeito, que tenciona alcançar milhões de votantes e dependentes do dito programa, porém desacompanhada de qualquer força de argumentação. Esta falta, contudo, não reanima a oposição, que continua a “cair pelas tabelas”, e sem poder de reação suficiente para voltar ao tablado da disputa. O pior de tudo, entretanto, é perceber que até os especialistas em políticas sociais estão a fazer o jogo do governo, pois também são incapazes de dar outro direcionamento ao referido debate, e, assim, perdem todos, bem mais a maioria da população, que se vê presa ao jogo de palavras da candidata a reeleição.
O programa, então, infelizmente, tornou-se mero instrumento eleitoral. Por isso, e não sem razão, ele recebe as injeções de oxigênios no tempo calculado, com o fim de gerar os dividendos necessários. O que explica a prancha de otimismo, sempre anunciada com “a vinda de mais 2,5 milhões a se somarem aos 22 milhões de beneficiários, a deslizar na onda de que “o fim da miséria é só o começo”.
Este fim, no entanto, se encontra bastante distante. Bem mais quando se percebe que os C$ 70,00 não cobrem o custo das necessidades alimentares mínimas fixadas pela Organização Mundial da Saúde, as quais já, em 2009, exigiam C$ 144,00. Este último valor, curiosamente, daria hoje para comprar as porções de comida estabelecidas no “Guia Alimentar para a População Brasileira”, do Ministério da Saúde.
Detalhe que, de forma alguma, passou despercebido da presidente. Ela, porém, não quer discutir valores necessários para compra dos alimentos da dieta mínima, recomendada pelo seu próprio governo, nem se mostra interessada no tal debate, mas isto sim empenhada em decorar o script da sua campanha, cujo “carro-chefe” é “a erradicação da miséria”.
Isso realça a tese de que o governante faz tudo para garantir a sua reeleição. Foi assim em 2006 com o petista Lula da Silva, bem como em 1998 com o tucano Fernando Henrique Cardoso, e em 1986, quando o PMDB elegeu vinte e dois governadores, embalado pelo Plano Cruzado que, passado as eleições, naufragou pelas águas tenebrosas da inconsistência.
De lá para cá, a inflação foi domada e a economia do país, a partir do governo Itamar Franco, voltou a navegar equilibradamente. O Plano Real trouxe o país para o seu verdadeiro lugar, sem os sobressaltos dos desequilíbrios da economia, ainda que administrado por vias do interesse político-eleitoral. Daí o surgimento de “bolsas quaisquer coisas”, em especial o Bolsa Escola que, mais tarde, veio a resultar em Bolsa Família.
Bolsas que foram necessárias, e tiveram suas importâncias. Porém ao adotá-las, o governo federal não as fez acompanhar de uma política capaz de abrir o caminho para a saída do programa por parte dos brasileiros, inscritos há mais tempo. Age assim porque vê nos programas, assim como tem o Bolsa Família, mero instrumento captador de votos.
Isso é muito triste. Agravada porque não se discute nem mesmo esse caráter eleitoreiro, tampouco o valor de C$ 70,00 de renda, com o qual dificilmente alguém superaria a miséria. Miséria que exclui da vida social e política milhões de brasileiros, assim como também subtrai a independência de quem se encontram prisioneiros da bolsa que, por mais que tenham vontade, jamais se desvencilharão das correntes que os deixam no fundo da caverna. O que exigiria deles, além do poder de compra, o saber interpretar as imagens que lhes parecem como reais, embora distintas do mundo lá fora.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
O programa, então, infelizmente, tornou-se mero instrumento eleitoral. Por isso, e não sem razão, ele recebe as injeções de oxigênios no tempo calculado, com o fim de gerar os dividendos necessários. O que explica a prancha de otimismo, sempre anunciada com “a vinda de mais 2,5 milhões a se somarem aos 22 milhões de beneficiários, a deslizar na onda de que “o fim da miséria é só o começo”.
Este fim, no entanto, se encontra bastante distante. Bem mais quando se percebe que os C$ 70,00 não cobrem o custo das necessidades alimentares mínimas fixadas pela Organização Mundial da Saúde, as quais já, em 2009, exigiam C$ 144,00. Este último valor, curiosamente, daria hoje para comprar as porções de comida estabelecidas no “Guia Alimentar para a População Brasileira”, do Ministério da Saúde.
Detalhe que, de forma alguma, passou despercebido da presidente. Ela, porém, não quer discutir valores necessários para compra dos alimentos da dieta mínima, recomendada pelo seu próprio governo, nem se mostra interessada no tal debate, mas isto sim empenhada em decorar o script da sua campanha, cujo “carro-chefe” é “a erradicação da miséria”.
Isso realça a tese de que o governante faz tudo para garantir a sua reeleição. Foi assim em 2006 com o petista Lula da Silva, bem como em 1998 com o tucano Fernando Henrique Cardoso, e em 1986, quando o PMDB elegeu vinte e dois governadores, embalado pelo Plano Cruzado que, passado as eleições, naufragou pelas águas tenebrosas da inconsistência.
De lá para cá, a inflação foi domada e a economia do país, a partir do governo Itamar Franco, voltou a navegar equilibradamente. O Plano Real trouxe o país para o seu verdadeiro lugar, sem os sobressaltos dos desequilíbrios da economia, ainda que administrado por vias do interesse político-eleitoral. Daí o surgimento de “bolsas quaisquer coisas”, em especial o Bolsa Escola que, mais tarde, veio a resultar em Bolsa Família.
Bolsas que foram necessárias, e tiveram suas importâncias. Porém ao adotá-las, o governo federal não as fez acompanhar de uma política capaz de abrir o caminho para a saída do programa por parte dos brasileiros, inscritos há mais tempo. Age assim porque vê nos programas, assim como tem o Bolsa Família, mero instrumento captador de votos.
Isso é muito triste. Agravada porque não se discute nem mesmo esse caráter eleitoreiro, tampouco o valor de C$ 70,00 de renda, com o qual dificilmente alguém superaria a miséria. Miséria que exclui da vida social e política milhões de brasileiros, assim como também subtrai a independência de quem se encontram prisioneiros da bolsa que, por mais que tenham vontade, jamais se desvencilharão das correntes que os deixam no fundo da caverna. O que exigiria deles, além do poder de compra, o saber interpretar as imagens que lhes parecem como reais, embora distintas do mundo lá fora.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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