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Opinião
Terça - 16 de Maio de 2023 às 05:57
Por: Wilson Carlos Soares Fuáh

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Todos que vinham para Cuiabá, da região sul do país por rodovia, tinham como porta de entrada a Avenida Coronel Escolástico. Ela começa na Igreja São Judas Tadeu e termina na Igreja do Rosário.

Essa avenida tem um grande monumento da cidade: ali está edificado o pedestal que homenageia as figuras do Bandeirante, do Índio e do Negro. A primeira casa construída nessa Avenida está ao lado da Igreja São Judas Tadeu, que pertencia ao comprador de gados, Sr. Luiz Soares da Silva que morou por muito tempo ali.

Mas, o grande casarão da família Soares ficava pelas imediações do entroncamento com a Av. João Gomes Sobrinho com a Travessa das Laranjeiras, de propriedade do Sr. “Pai Juca” ( José Soares da Silva – filho adotivo do Usineiro Manoel Guimarães, homem rico e poderoso, dono de engenho de escravos ), isso nos idos de 1808, e a família Soares da Silva, tinha propriedades em toda a extensão dessa Avenida, era conhecida como a Rua dos Soares ou Rua do Areão.

Lembro-me de alguns nomes: Vitoriano, Altamiro, Joaquim, João Batista, Francisco, Dona Celi.


A família Soares da Silva é remanescente do Patriarca Victoriano Soares da Silva, paulista de Sorocaba, que veio para Cuiabá ainda em 1.788 e casou com uma cuiabana da família Paes de Barros (Ana).

Na Avenida havia também os seus tipos tradicionais, alguns até considerados “loucos do bem”, que traziam muitas alegrias às crianças. Lembro-me bem do “Macaco de Bota”, “Pau de Fumo”, “Zé Belinho”, “João Mamoré” e o “Olho de Bala”... Eram figuras que a criançada chamava pelos apelidos fazendo-os sair correndo atrás de todos (chegavam até a jogarem pedras). Enfim, uma festa para a criançada, e que ficou apenas a saudade daquele tempo.

Ali tinha o Serviço de Alto-Falante, “ A Voz do Areão”, comandado pelo Dr. Lauro, dentista que a noite, fazia-se de locutor, lá pelos idos de 1961/1965, em que ele colocava as músicas da “Jovem Guarda” e os namorados passeavam pela imediações ouvindo Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps; Leno e Lilian; Os Vips; The Fivers; Os Milionários e The Beatles, e que eram os conjuntos famosos da época.

Os namorados ofereciam músicas e faziam as declarações apaixonadas (às vezes anônimas), também prestava os serviços de utilidade pública, dando notas de falecimentos, convites para casamentos e batizados... Ainda hoje, ao fechar os olhos ainda ouço aquelas músicas, vejo aquelas figuras a sorrir e passear sempre alegres, sem maldade.

Como era bom viver em Cuiabá daquela época, parecia que todo mundo era feliz com pouca coisa. Em 1968 foi fundado o “Clube Esportivo Novo Matogrosso” que tinha como seu Presidente o Odontólogo, Antônio Esmela Curvo que era um apaixonado pelo futebol e sentia feliz por estar promovendo a união dos moradores daquela Avenida e, às suas custas alugou um casarão que se transformou na Sede do Clube, tinha mesas de jogos de baralho, onde reinava o “Truco Espanhol”, jogos de Ping-Pong, e promoviam brincadeiras dançantes, almoços com Cabeça de Boi Assada e pratos tradicionais (Maria Isabel, Farofa de Banana e Sarapatel).

O Time reunia nessa sede para sair dali, para os treinos e jogos. Esse histórico time disputou o Primeiro Torneio início promovido pela Liga do Departamento Autônomo de Futebol Amador de Cuiabá e foi Campeão. Uma festa enorme que seguiu madrugada adentro, os Troféus ficavam na galeria do Clube na sala principal. Esse time teve grandes treinadores, Jamil, Alair Fernando e Xúm-Xúm, entre os jogadores da época, podemos destacar os goleiros: Gurizinho, Hebert, Lulu; os zagueiros: João Torres, Ariel, Jamil, Bodinho, Osmar, Jair; os meios-campos: Fuá (vejam o nome do autor deste artigo aqui), Zeca, Beninho, Dito Lobi, Toninho, Canhão; atacantes: Edu, Ditão, Felizardo, Aurélio, Nhonhô Preto, Piauí, e Alair Fernando.

Quantas saudades daquele time e daquela sede. Por onde andarão esses jogadores? O Clube tinha até um samba:

“Se uso bebico no alto da cabeça/ dizem que sou malandro/ mas, não sou./ Sou amigo ganhador./ Se uso bebico assim/ é por causa do calor,/ ôô, Ô, ôôôôôôô,/ o Novo Mato-Grosso chegou,/ ô, ô ôôôôôôô o Novo Mato-Grosso chegou./” (“bebico”: quepe, boné de aba só na frente, e que era considerado, naquela época, como uso exclusivo de malandros).

Havia ali ao lado, o Bar mais famoso do pedaço: “Bar do Biano”, onde se reunia a boemia da Avenida, com infindáveis bate-papos, com “tira gosto” e a cerveja mais gelada de Cuiabá. Ainda me lembro dos frequentadores que eram os mesmos, do time e do samba, e também políticos e personalidades proeminentes de outros bairros, que faziam daquele lugar um palco para representar no teatro da vida noturna com os seus falatórios e discursos.

“Os moradores jovens em sua maioria desfilavam nas Escolas de Sambas: inicialmente eram componentes do “Deixa Cair”, depois a “ Escola de Samba Pedroca”, lá da COHAB – Cidade Verde e, depois, a Mocidade Independente Universitária.

Falou em Samba, lembramos grande Alair Fernando, o entusiasta do samba, dançava como ninguém e tocava todos os instrumentos de ritmo e percussão: Agogô, Tamborim, Repenique, Surdo, Chocalho, era o professor e o mestre do Samba em Cuiabá. Não podemos esquecer-nos do Mestre Zequinha, com a sua elegância, seu apito de ouro, era o Comandante a “Bateria da Mocidade Independente Universitária” cuiabana.

Ainda ouço aquela bateria numa explosão de ritmos e criatividade, e o apito do Mestre Zequinha produzindo som inconfundível. Ele sempre impunha a sua liderança no meio de cem batuqueiros. Saudades da Velha Cuiabá e daquele tempo que não volta mais.

Saudade da Av. Coronel Escolástico, onde misturava: cultura comunitária, futebol e samba, além de ser o berço dos Soares.

Wilson Carlos Soares Fuáh é economista especialista em recursos humanos e relações sociais e políticas.



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