Precisamos ampliar a conversa sobre as mulheres mães no mercado de trabalho
O mês de maio é uma época propícia para discutirmos sobre a parentalidade. Apesar de parecer um conceito recente, parentalidade diz respeito às ações realizadas pelas pessoas que possuem a responsabilidade de cuidar de uma criança assegurando sua proteção e adaptação familiar e social.
Não necessariamente a parentalidade vai acontecer por meio da maternidade, por isso, o Dia das Mães, celebrado no segundo domingo de maio, é uma data que já não é mais comemorada por muitas organizações devido à ausência da figura materna na configuração das famílias contemporâneas. Por isso, vemos a priorização do Dia da Família, instituído pela ONU em 1993, que acontece em 15 de maio e homenageia a relação afetiva entre as pessoas que tenham ou não laços sanguíneos. Um conceito que se baseia no amor, na ajuda mútua, na partilha e que promove a formação de valores em cada um de nós.
E mesmo que estejamos avançando nessas novas perspectivas das relações, ainda se faz muito necessário fomentar a conversa sobre a maternidade no mercado de trabalho. O impacto da maternidade para a mulher ainda gera mais complexidade nesse papel social quando comparada ao papel do homem exercendo sua paternidade. É fato que existem questões biológicas que demandam mais da mulher no nascimento de uma criança para aquelas que optam em gerar um bebê. Toda chegada de uma nova criança, nas suas diferentes formas, exige adaptações. A questão é que ainda existem questionamentos sobre o desempenho dessas mulheres no mercado de trabalho. Muitos gestores ainda pensam: será que essa pessoa da minha equipe ainda conseguirá desempenhar suas atividades profissionais com tamanha qualidade após a licença maternidade? Será que ela continua com as mesmas ambições de crescimento depois da maternidade? E nossa percepção é que esses questionamentos são geralmente direcionados mais à mulher que inicia a maternidade do que ao homem que inicia a paternidade.
Os números são avassaladores em relação a essa questão. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 40% das mulheres ainda perdem o emprego logo na volta da licença maternidade ou nos dois anos seguintes. O mesmo estudo aponta que os efeitos desse fenômeno são prolongados e persistentes. As mulheres voltam a ter a mesma probabilidade de estar no mercado do que tinha antes de se tornar mãe só quando seu filho ou sua filha completa 18 anos de idade.
A licença maternidade não pode ser uma marca negativa na história profissional de uma mulher. É fato que a maternidade, seja ela biológica ou por meio da adoção, muda a rotina e o olhar de uma mulher. Não somos a mesma pessoa após a experiência de ter a responsabilidade sobre o desenvolvimento de uma criança. Mas essa transformação não deveria ser vista como um obstáculo, mas sim como uma evolução por desenvolver na mulher mais habilidades comportamentais como flexibilidade, criatividade, inteligência emocional e muitas outras.
Diante do exposto, tenho orgulho em trabalhar em uma empresa que valoriza as mulheres em suas diferentes fases de vida. Nós temos inúmeros exemplos de contratação de mulheres grávidas, promoção de mulheres em período ou retorno de licença maternidade (como aconteceu comigo) e outras situações em diferentes momentos de vida profissional de uma mulher sem que a maternidade tenha sido um problema em suas carreiras. Hoje, 38% das mulheres que trabalham na Votorantim Cimentos no Brasil são mães.
Temos o compromisso de chegar a 30% de mulheres em cargo de liderança no Brasil até 2030. Acreditamos que para chegar lá precisamos dar suporte no desenvolvimento de carreira das nossas mulheres no mercado de trabalho, além é claro, de trabalhar com toda a organização para criar um ambiente inclusivo. Um exemplo de iniciativa com nosso público feminino é que, há quatro anos, criamos o Lidera VC, que é um programa com foco no desenvolvimento de mulheres líderes. Abordamos diferentes temáticas na formação a partir da perspectiva de gênero e inclusão, como estereótipos de gênero, negociação, liderança inclusiva, liderança estratégica e imagem profissional. No final deste ano, prevemos formar 250 mulheres no programa.
Na minha experiência pessoal, entendi que a maternidade nos convida para novos aprendizados e competências, e que isso acontece de forma particular para diferentes mulheres. Esse é um olhar muito individual dentro da trajetória de carreira profissional da pessoa, mas tenho clareza de que a chegada de um(a) filho(a) traz uma nova lente sob a ótica do trabalho. As prioridades mudam e surgem novos olhares e habilidades para lidar com novas situações da maternidade. Sempre fui apaixonada pelo meu trabalho, pelos projetos e me dediquei muito a isso. A chegada da minha filha trouxe uma nova perspectiva. Me desafiou a ser cada vez melhor como mulher, como mãe e como profissional. A gente aprende a somar as paixões, dividir as atenções, a gente se reinventa. E se reinventar só gera mais valor, todo mundo ganha. A maternidade e todas as suas implicações não podem ser um peso que determina a trajetória profissional de uma mulher, mas sim, um momento para um novo ciclo, novos desenvolvimentos e novas jornadas para toda rede impactada.
Thatiana Soto Riva é gerente geral Global de Desenvolvimento Organizacional da Votorantim Cimentos
Comentários