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Sexta - 27 de Junho de 2014 às 14:43
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

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Cauã Reymond está na moda. Desde abril, toda sexta-feira, ele vira André, o ex-policial vingativo de O caçador, seriado semanal da TV Globo, com direito a muitas cenas de ação e muito Cauã sem camisa. Antes disso, em janeiro passado, foi visto na TV como o sedutor Leandro, um dos personagens principais de Amores roubados. A minissérie conseguiu a maior audiência do gênero nos últimos 11 anos. Em consequência do sucesso, Cauã se tornou, aos 34 anos, um fenômeno de popularidade. Sua legião de fãs no Facebook subiu de 3 milhões para mais de 5 milhões em menos de seis meses. A maior parte de suas fãs são mulheres com idade entre 18 e 24 anos. Elas deixam recados empolgados na rede social: “Lindooo”, “hermoso”, “te amo”, “adorable”, e por aí vai. O sotaque espanhol vem da Argentina, onde Cauã tem mais de 700 mil seguidores graças a Jorgito, seu personagem de Avenida Brasil, novela vendida para 130 países e um sucesso do lado sul da fronteira.


Tudo estaria perfeito não fosse um pequeno inconveniente: Cauã não parece se sentir à vontade na posição de galã. Tem ambições maiores do que a função que já foi ocupada por Tarcísio Meira, Francisco Cuoco ou Thiago Lacerda. Se incomoda com papéis que exploram apenas sua beleza e sensualidade. Ele evita de forma obstinada a exposição pessoal que costuma acompanhar o cachê milionário e a fama. O galã por quem nove em cada dez moças suspiram deseja ser levado a sério – como ator. “Não me sinto confortável fazendo só o bonitinho. Gosto de desafios”, diz ele.

Em 12 anos de carreira, Cauã atuou em nove novelas, dez filmes, uma minissérie e um seriado. É um currículo respeitável. Mas pergunte sobre ele nas ruas, e todos lembrarão, rapidamente, outra coisa: Grazi Massafera. Cauã foi casado por quase sete anos com a ex-miss que se tornou vice-campeã do Big Brother e virou atriz. Com ela, tem uma filha de 2 anos, Sofia. A separação dos dois, em fevereiro deste ano – atribuída a um romance com a atriz Isis Valverde, um de seus pares românticos em Amores roubados –, tornou-se um evento midiático, acompanhado passo a passo pela imprensa de celebridades. Cauã fica visivelmente incomodado com qualquer pergunta sobre as causas da separação. “Ainda estou procurando um motivo”, diz ele. “Aprendi que não preciso acompanhar a novela que fazem da minha vida.” Antes de Grazi, ele namorou por três anos a atriz Alinne Moraes.

Gente que o conhece bem define Cauã como um homem “calculado”. Ele faz psicanálise da linha lacaniana (difundida pelo psicanalista francês Jacques Lacan), que analisa obsessivamente o discurso do paciente. É difícil arrancar dele algo que não esteja no roteiro ou penetrar a armadura de charme que ele veste para lidar com o mundo. Cauã mede 1,82 metro e pesa 78 quilos. Pele bronzeada, apresenta-se como um homem elegante e simpático. Não tem músculos saltando sob a roupa. Quando nos encontramos a primeira vez, trajava calça jeans preta, tênis e blusa de malha. De costas, no primeiro encontro, não tinha ideia de que era ele. Perguntei à garçonete: “Você viu o Cauã Reymond?”. Ela sorriu e me apontou quem estava em pé, de costas, conversando animadamente com duas pessoas no restaurante. É um cara muito preocupado com a imagem. Sabe exatamente como andar, como se portar e como falar. Sua personalidade já foi definida como “inescrutável”. Na última das três entrevistas concedidas a ÉPOCA, enquanto Cauã bebia um suco de melancia com gengibre, fomos interrompidos três vezes em uma hora. Por fãs. Com simpatia, ele disse que atenderia assim que terminasse. Diz que só não tira foto se estiver com “o garfo na boca” ou com a filha. Acredita que é tênue a linha que separa o orgulho da prole do exibicionismo.

A terapia entrou em sua vida na adolescência, depois de ter articulado uma fuga grupal do colégio de freiras onde estudava, escondido no caminhão de refrigerantes. O episódio rendeu um convite para “tentar outra escola”. Com quatro expulsões e uma repetência no currículo, terminou o ensino fundamental fazendo supletivo. A energia foi canalizada para o jiu-jítsu. Chegou a faixa preta e sagrou-se bicampeão brasileiro, treinando de forma obstinada. Nessa época, quis tatuar no peito a frase “só o jiu-jítsu salva”. Sua mãe não deixou. “Ainda bem”, diz. “Como ator, eu não precisava daquela tatuagem enorme no peito.” Ao contrário de muitos jovens atores, Cauã não tem tatuagem, não usa brinco nem fuma. “Ele faz o que for preciso para chegar ao coração das pessoas”, diz Cássia Kiss, mãe dele na minissérie Amores roubados. Durante os quase três meses de gravação, ele e Cássia combinaram de não se falar para acentuar a relação conturbada dos personagens na trama.

Esse ator obcecado com seu ofício nada tem a ver com o jovem de 20 anos que Susan Batson, dona de um curso de atores em Nova York e preparadora de artistas como Tom Cruise e Juliette Binoche, descreveu como o “Marlon Brando latino”. Ela provavelmente estava impressionada com a aparência de Cauã. Ele trabalhava como modelo e sempre foi ciente de seu poder de atração. “Eu nem sabia direito quem era Marlon Brando”, diz, soltando uma gargalhada que termina com um “raaaam”. Um dos motivos que fizeram Cauã desistir da vida de modelo, diz ele, foi a impossibilidade de evoluir na carreira. Cauã desfilou para estilistas como Mario Testino, Lagerfeld e Jean Paul Gaultier. Diz que não tinha o “look do momento”. “Na luta, você treina e ganha o campeonato. Na escola, você estuda e melhora as notas. Na carreira de modelo, não.”
Filho de pais que nunca moraram sob o mesmo teto, Cauã passava temporadas com a mãe, astróloga, e com o pai no Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Faixa preta de jiu-jítsu, ex-professor de ioga, o psicólogo José Marques, de 53 anos, foi uma clara influência nas escolhas profissionais do filho. Cauã chegou a cursar psicologia na PUC do Rio e trancou. Quando largou a carreira de modelo, foi estudar dramaturgia em Nova York por sugestão do pai. “Quando Cauã tinha 16 anos, eu o vi num festival de música. Foi um arraso. Ele tinha presença de palco”, diz. Marques. Criança, Cauã chegou a levantar suspeitas de hiperatividade. O pai nunca concordou com o diagnóstico. “Ele fazia tudo o que se propunha a fazer e era focado.” A descrição coincide com a opinião do amigo de adolescência Alexandre Street, hoje engenheiro e professor da PUC do Rio. Eles se conheceram na academia onde treinavam jiu-jítsu. Têm a mesma idade. “Cauã tem algo que me inspira: sempre acreditou que tudo o que faz daria certo”, diz Street. “Ele quer se superar o tempo todo, vive em competição consigo mesmo.”

Para escapar do estereótipo de ator apenas bonito, Cauã tem buscado papéis que fogem ao perfil do galã. Aceitou cachês simbólicos e apostou seu nome em produções de baixo orçamento que não lhe dão a mesma visibilidade, mas oferecem papéis menos óbvios. Causa surpresa vê-lo como o amigo gay de Leandra Leal no filme Estamos juntos, de 2011. Em agosto, ele aparecerá nos cinemas no longa-metragem Tim Maia, como narrador e melhor amigo do cantor, num filme inspirado no livro de Nelson Motta. Não é coincidência ele ter escolhido um personagem em que a voz é mais importante que a imagem. O cinema tem retribuído seu empenho em atuar bem. Com o filme Se nada mais der certo, de 2008, de José Eduardo Belmonte, Cauã conquistou sete prêmios de Melhor Ator, em diferentes festivais. “Eu buscava um ator bonito, e Cauã é disciplinado, tem cabeça de artista”, diz Belmonte. Ele voltou a dirigir Cauã em Alemão. O filme entrou em cartaz em março e atraiu quase 1 milhão de expectadores em apenas seis semanas. Nele, Cauã vive o criminoso Playboy. Sua presença está garantida na continuidade.

“A beleza é uma ferramenta que também atrapalha”, diz Cauã. “Muitos diretores não me imaginam em certas histórias.” A solução para esse “problema” tem sido mudar a aparência e até a voz. “Eu precisava que ele soasse mais adulto na pele do André, com um tom mais rouco, e ele conseguiu isso. Mudar a voz é tão difícil quanto engordar 30 quilos para fazer um personagem”, diz José Alvarenga Júnior, diretor de O caçador. Um dos melhores diretores de sua geração, Alvarenga aposta suas fichas em Cauã. “Ele pode vir a ser nosso Leonardo DiCaprio”, afirma. DiCaprio, como vários atores, precisou provar que, além de beleza, tinha talento. Muitos só conseguem depois de envelhecer ou ficar feios. Foi o caso de Mathew McConaughey, vencedor do Oscar neste ano de Melhor Ator pelo longa-metragem Clube de compras Dallas. Mais conhecido pelos tipos bonitões de comédias românticas, McConaughey emagreceu 17 quilos para viver um homofóbico com HIV.

Cauã ainda está longe desse tipo de reconhecimento. Outros atores de sua geração – como Wagner Moura ou Rodrigo Santoro – têm conseguido mais repercussão, até fora do Brasil. A imagem de Cauã ainda está ligada à aparência e à sensualidade de seus personagens. Pode ser uma armadilha definitiva. Ou não. Em 2002, quando estreou na novela Malhação, ele encarnava um adolescente fortão de tiara. Parecia perdido diante da câmera. Doze anos depois, sabe exatamente o que faz como o policial de O caçador. Melhorou. Aprendeu. “Como ator, o desempenho depende de você”, diz ele. “Eu sou um cara trabalhador.”





Fonte: Época

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