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Cultura
Terça - 05 de Abril de 2011 às 14:03

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Tradicionalmente no aniversário de Cuiabá, a Orquestra do Estado de Mato Grosso prepara espetáculos que homenageiam a capital mato-grossense. Em 2010 apresentou o Concertino para viola de cocho e orquestra, peça encomendada especialmente para o instrumento pantaneiro solar. Este ano, no 292° aniversário da cidade, a OEMT utilizará em meio aos instrumentos clássicos da música de concerto, um folclórico berrante. 


Os concertos que comemoram a cidade de Cuiabá ocorrem nos dias 8 e 9 de abril, no Cine Teatro Cuiabá, sempre às 20 horas e fazem parte da programação organizada pela Secretaria de Estado de Cultura para celebrar o aniversário da capital. Essas apresentações marcam o lançamento do terceiro álbum da Orquestra de Mato Grosso, intitulado “O Berrante Pantaneiro”, que apresenta composição homônima do músico e pesquisador de tradições culturais, Guapo. “Vivi muito tempo na fazenda trabalhando com gado. O toque do berrante me encanta desde a infância, e o toque do Chico [do Berrante] me inspirou na sinfonia. Eu coloquei apenas quatro toques, mas existem muitos outros”, explica Guapo.


A sinfonia Berrante Pantaneiro apresenta quatro movimentos inspirados em toques característicos do instrumento: Toque de Debandada [primeiro toque da madrugada, estimula a boiada a andar]; Toque de Agradecimento [gratidão ao fazendeiro que permitiu a pernoite do gado e peões em suas terras, ou porque comprou o gado e está levando para outro lugar, ou ainda, um toque tradicional para o gado não emagrecer]; Toque Aviso de Perigo [alerta os peões e distrai a boiada para o perigo eminente de onça, cobra ou enxame de abelhas]; Toque Pasto, Sombra e Água Fresca [quando o ponteiro – peão que segue na frente dos bois – encontra um pasto bom para descansar ou pernoitar. O toque convence o gado a parar].


‘Berrante Pantaneiro’ foi escrita em 2002 e gravada no ano de 2010, inspirada nos diferentes toques de berrante - uma espécie de buzina feita de cornos de animais -, eficaz na orientação, defesa e comando do gado, instrumento muito utilizado por vaqueiros para conduzir a boiada e se comunicar à distância nos pastos do Brasil. A responsabilidade de empunhar o berrante em meio a violinos, violas, violoncelos, contrabaixo e percussão fica a cargo de um dos mais folclóricos tocadores do instrumento, o cacerense e ex-peão Chico do Berrante. “O Chico possui o maior berrante do mundo, com 1, 65 metros de comprimento e 50 cm de boca. Já foi duas vezes campeão do concurso de berrante em Barretos, a maior festa de peão do Brasil”, diz Guapo.


O berrante é um instrumento de sopro de grande e médio porte, dotado de escalas e tonalidades distintas, capaz de emitir códigos de comunicação com os animais e entre os peões, como o toque de abertura da porteira, retirada da querência, balanço da boiada, aviso de encruzilhada, dentre outros. “Tem também o toque de pastoreio, que significa a sequencia da viagem, pondo o gado no estradão novamente. Mas o bonito mesmo é o fim da jornada, o toque de debandada, que indica que os vaqueiros vão voltar para casa depois do trabalho cumprido”, explica Chico do Berrante.


O compositor


Nascido em 1951 em Cáceres – Mato Grosso, Milton Pereira de Pinho Guapo é filho de pai violeiro e tio cantor - que se expressava em várias línguas como o português, espanhol e guarani. Sua avó paterna, Yolanda Widal de Pinho era pianista, seu avô materno, Zacarias Pereira de Limaeracururueiro [Violeiro Folclórico].


Guapo teve uma educação musical bem colocada pelo pai professor, matemático e físico, que considerava importante educar os ouvidos com todo tipo de musica, para distinguir a qualidade. A sua vivência no Pantanal com a riqueza sonora, sons de pássaros e animais influenciaram Guapo decisivamente, bem como a vivência no meio popular, bailes, festas de santo e outros festejos populares. De sua mãe, Maria de Lima Pinho, lavadeira ribeirinha, herdou e aprimorou o gosto popular pelas lendas e mitos ribeirinhos.


A mistura da influência paterna e materna provocou o vivo interesse pela ciência e pela sensibilidade do conhecimento empírico popular, que lhe suscitou o jeito autodidata de músico e pesquisador. Com dezoito anos, começou a tocar violão e nunca mais largou. Depois viveu em Goiânia e no Rio de Janeiro onde pesquisou o samba no Morro do Estácio. Em 1976, mudou-se para São Paulo e tornou-se funcionário da extinta FEPASA - Ferrovia Paulista S/A. Conheceu a música sertaneja de raízes e nas férias de trabalho pesquisou a música latino-americana, buscando as raízes dos rasqueados mato-grossense, viajando pelo Paraguai, Argentina e Bolívia.


Em 1985, já em Cuiabá, uniu seus conhecimentos com Vera Bagetti, Zuleica Arruda e Marques Caraí, nascendo daí a ideologia musical, Vanguarda Nativista. Depois de representar Mato Grosso em varias partes do país e fora, em 1994 suas musicas Canto Guacho e Velho Chamame foram trilhas musicais do seriado A Lenda, das extinta TV – Manchete, dirigida porMarcos Schechtman [hoje diretor na Rede Globo]. Em 1996 grava seu primeiro CD – Pantanal Branco e Preto, em 2000 grava o segundo chamado Resto de Guarania. Foi compositor de várias trilhas musicais para cinema como: Animando o Pantanal pelo Núcleo de Cinema de Campinas-SP, premiado na China no Festival Anima Mundi em 1990. Também fez trilha para os filmes Rondon o Ultimo dos Bandeirantes, Baile Pantaneiro, Divisão de Mato Grosso, O poeta Silva Freire, dentre outros. É autor do livro Remedeia co que Tem, um mapeamento histórico musical da música mato-grossense. Idealizou e coordenou o projeto Rua do Rasqueado que resgata a dança popular mato-grossense. Foi o primeiro músico mato-grossense a representar o Estado no evento “Mato Grosso States Cultural”, realizado em novembro de 2005, em Washington-DC, com o show-recital: Searching For The Lost River , fechando a quinzena cultural de Mato Grosso nos Estados Unidos.

 






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