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Economia
Segunda - 11 de Julho de 2016 às 10:56
Por: Vinícius Bruno/A Gazeta

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Criadores de suínos em Mato Grosso ameaçam deixar a atividade. Preocupados com a escassez de milho, cujo ápice da gravidade no abastecimento está previsto para ocorrer entre agosto deste ano até o fim do 1º semestre de 2017, eles já não suportam tantas perdas. Diante da possibilidade de o preço da saca do cereal chegar a valores impraticáveis para a produção de ração, o alerta se manifesta em um momento no qual os estoques públicos estão deficitários e a produção de milho comprometida, seja com os contratos futuros ou com a quebra da safra, que acumula retração de 22,8% nesta temporada.

O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que serão colhidas 20,223 milhões de toneladas de milho na safra 2015/2016, praticamente 6 milhões (t) a menos que na safra 2014/2015, quando foram produzidas 26,199 milhões (t) em Mato Grosso. Nas bastasse a quebra de safra, houve muita especulação pelo milho nos contratos futuros, o que resultou na comercialização de 65,8% da produção, sendo que parte do que já foi vendido não será entregue porque muitos produtores tiveram graves problemas durante a safra, como a escassez de chuvas.

A situação provocou o governo federal, que precisou realizar leilões de milho durante o 1º semestre para abastecer principalmente a produção de proteína animal, o que gerou esvaziamento dos estoques públicos, com redução de 43,3% do volume mantido pelo governo federal, que baixou de 1,573 milhão de toneladas de milho em junho de 2015 para 891,669 mil (t) em junho deste ano, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Contudo, o aumento no estoque público é uma decisão delicada, pois com o dólar valorizado frente ao real, as commodities brasileiras ficam atrativas no mercado internacional e o produtor lucra mais quando converte a venda em dólar para real. Além disso, o governo só compra o milho pagando o preço mínimo, fixado em R$ 16,50; enquanto que no mercado é possível vender por até 91,5% a mais, com a saca de 60 kg vendida por R$ 31,60 na última sexta-feira em Alto Araguaia.

A criadora de suínos em Campo Verde, Maura Bordignon, 53, relata que outro problema que pode ocorrer com o milho estocado é a perda da qualidade do grão, tornando-o inviável para a produção de ração. Também que não é suficiente ter milho disponível para leilão ou tentar assinar contrato futuro com os produtores, porque há 7 meses a situação dos criadores é de prejuízos. “Chega o momento em que não sabemos o que fazer. Como vamos alimentar 550 matrizes por 6 meses se não tiver ração? Além do mais, todos os insumos ficaram mais caros e não conseguimos repassar isso para o consumidor final. Estamos com prejuízo de R$ 1,00 por quilo vendido. É o mesmo que entregar o porco e dar mais R$ 100 para quem está comprando”. O criador de suínos em Rondonópolis, Ivo José Anghinoni, 59, também está preocupado com uma escassez de milho ainda mais severa. “Não tem mais como continuar na atividade deste jeito. Ninguém consegue manter o negócio se precisar pagar acima de R$ 30 pela saca de milho. Não há nenhum lucro dessa forma”.

APELO AO GOVERNO - Dado o cenário caótico, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrismat) encaminhou um ofício ao secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Ricardo Tomczyk. O documento relata a preocupação com a elevação exorbitante no preço da saca de milho, que pode chegar próximo de R$ 50 ou até mesmo ultrapassar este valor, dependendo do nível de escassez.

O documento enviado ao secretário pede que ele interceda pelo setor produtivo junto ao ministro Blairo Maggi para viabilizar alternativas de financiamento e ampliação de prazos para pagamento do empréstimos do governo federal (EGF), que estariam com critérios inflexíveis, e que muitos criadores não conseguiram acessar.

A Sedec informou por meio de nota que vem tratando junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre a demanda da Acrismat referente à queda na produção do milho, insumo indispensável à suinocultura; e alternativas para o setor, entre elas, a disponibilidade de uma linha de crédito federal para financiar aquisição de estoque de milho. “Uma agenda inicial entre a associação e o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já foi realizada para tratar do assunto. A Sedec está acompanhando este tema, que deve ser novamente pauta de uma agenda com o Mapa nos próximos dias”, pontua a nota.

A Acrismat também enviou um ofício ao ministro Blairo Maggi, com 3 solicitações, sendo a 1ª que o preço mínimo do milho em Mato Grosso passe para R$ 18,09. O 2º quesito trata de um procedimento de opção de compra e venda entre os produtores e compradores do grão dentro do próprio Estado, cujo volume seja de 3,4 milhões de toneladas. E por último, os produtores pediram a revisão da política de crédito, com aumento de prazo para pagar os débitos junto ao governo federal.

O secretário-executivo do Mapa, Eumar Novacki, tenta tranquilizar os produtores afirmando que todas as medidas estão sendo tomadas para que a escassez de milho não venha a prejudicar os criadores de forma tão agressiva. Entre as medidas pensadas está a abertura das barreiras comerciais para a importação de milho, que possa garantir o produto temporariamente. “Estamos estudando quais ações serão possíveis”.





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