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WILSON CARLOS FUAH
Sexta - 06 de Fevereiro de 2015 às 21:40
Por: Mario Eugenio Saturno

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O Estádio Eurico Gaspar Dutra, era o templo do futebol cuiabano antes do advento da construção do Verdão, ficava lotado nas tardes de domingo. 


Os dirigentes eram amadores e extremamente apaixonados pelos seus clubes, honestos e sempre respeitavam as tradições de suas agremiações.

Para homenageá-los, vamos citar apenas os principais: pelo Dom Bosco nos lembramos do eterno Presidente Joaquim de Assis, pelo Mixto lembramos do grande e inesquecível Professor Ranulfo Paes de Barros e pelo lado do Operário o Comendador Rubens dos Santos, cada um na sua forma de administrar seu clube e essa paixão era espalhada por toda a cidade, cada um ao seu jeito carregavam as essas agremiações nas costas.

Vamos lembrar algumas passagens do nosso emocionante futebol onde a cidade inteira era envolvida com o poder da comunicação do Rádio, tendo como comandante o grande narrador Ivo de Almeida com a sua Equipe da Peteca, nessa época cada clube cuiabano tinha a sua mística, e nas proximidades dos clássicos, contratavam um guia espiritual conhecidos como “Pai de Santo”.

"Essa regressão é diretamente proporcional a pura incompetência dos dirigentes, os cuiabanos são merecedores de espetáculos melhores"



O Operário mandava buscar o Carrapato em Corumbá, e ele fazia aquelas oferendas de terreiros para derrotar os adversários, e no Mixto para não ficar para trás contratava o reforço espiritual do Pai de Santo - Noêmio, que também fazia as suas mandingas, colocando as oferendas nas encruzilhadas dos bairros de Cuiabá, e com isso, pensava que podia fazer o seu time vencedor e ao mesmo tempo, tentava prejudicar os adversários colocado os nomes dos jogadores adversários na boca de sapo, costurando-a e fincando alfinetes no corpo do animal para que os jogadores contundissem.

Na festa das arquibancadas, tinha os tradicionais torcedores, que agitavam as suas bandeiras nos clássicos, o Dutrinha fica lotado com pessoas sentadas até em cima dos muros do estádio e a alegria dos torcedores fazia parte do espetáculo e davam vida ao nosso futebol.

lado do Dom Bosco tinha grandes torcedores, cada um com a sua lenda pessoal: Armindo Pipoqueiro; Henrique Palminha, Carlinhos Iéié, e lá no último degrau da arquibancada nós víamos o famoso Professor João Crisóstemo andando nervosamente de um lado para o outro, suspendendo as calças e penteando os cabelos nervosamente, e não podemos esquecer também do Mexidinha, e os torcedores diziam para ele assim: “mexe aí mexidinha, e ele mexia o corpo inteiro”.

Pelo lado Operário entre os seus torcedores podemos citar: o grande Zarour que aos gritos incentivava o tricolor da fronteira; Dona Mariana na sua inigualável agitação e Calazans com o seu grito tradicional – “ vamos Opeeeeeeeeeeerário”.

E, pelo lado Mixto tinham as figuras de “Chincharrinha”, a grande torcedora “Nhá Barbina” com aquela enorme bandeira alvinegra a tremular e com aquela voz rouca, soltava os gritos pelo seu time do coração.

Quantas saudades daquelas tardes de domingo! Era paixão pura, era emoção que nascia do fundo das almas dos torcedores, era uma rivalidade sadia, sem violência, tanto é que ninguém saia ferido, ao fim dos jogos vinham somente as dores de cabeça pelas derrotas e as alegrias das vitórias.

Hoje estão tentando apagar as nossas tradições e a nossa história, com seguidas administrações ridículas e péssimos gerenciamentos foram apequenando o nosso futebol, não houve transferências de experiências e as nossas tradições foram jogadas no lixo da luxuosa Arena Pantanal.

Essa regressão é diretamente proporcional a pura incompetência dos dirigentes, os cuiabanos são merecedores de espetáculos melhores, e lá se foram três décadas perdidas.

A bola vai rolar.

Mas, o espetáculo para fazer sucesso depende de bons artistas e pelos baixos salários dos jogadores contratados, vemos que são nomes desconhecidos e que pouco pode acrescentar ao nosso futebol.

O Ivo de Almeida gritava nos microfones: Campo Grande tem Estádio, mas Cuiabá tem Futebol.

Hoje eu digo: Cuiabá tem um pobre futebol, mas tem uma Arena de luxuosa.

O campeonato de Mato Grosso com a Arena Pantanal transformou num grande corpo sem cabeça.

WILSON CARLOS FUÁ é economista, especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas, foi jogador do Mixto Esporte Clube.



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