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Opinião
Terça - 13 de Setembro de 2011 às 14:37
Por: Lourembergue Alves

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 Às vezes, tem-se a impressão de que a realidade se confunde com a ficção, ou será esta que se parece com aquela? Estabelece a dúvida. Mas, também, pode ser a incerteza. Eis, novamente, a hesitação. O que nada tem a ver com o cepticismo – ou tem? Se bem que o cético, sempre, nega a existência de uma dada verdade. Então, faz tudo para esconder as imagens que deixam à mostra a realidade negada. Para tal, aposta na arte de melhor apresentar os argumentos, os quais não são verdadeiros, mas causam um efeito tremendo. É nisso que apostam os trinta e oito “mensaleiros” em suas alegações finais, encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal. 

 Esse Tribunal, em 2007, recebeu-os como réus. Pois os ditos cujos promoveram o maior escândalo do país (2005) e que consistia em um esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo. Mesadas, porém, negadas pela cúpula petista. A CPI dos Correios, no entanto, chegou a outro resultado. Ainda que não tenha “batido” à porta do gabinete da presidência da República. Talvez por contentar-se com a versão do ex-metalúrgico, que dizia “não saber” e “nem ver” coisa alguma, embora em uma entrevista saísse com a célebre frase de que “todos fazem caixa 2”. Um ano depois, no entanto, o Procurador Geral da República apresentava a Corte-mor a denúncia contra 40 pessoas, sem a presença do nome do presidente. Esta não-inclusão deixou insatisfeito alguns segmentos da sociedade, e, em abril de 2011, levou o Procurador da República no Rio Grande do Sul, senhor Pestana, a mover uma representação contra o senhor Lula da Silva. Pois, segundo esse procurador, com o ex-presidente de fora da lista de acusados, dificilmente se poderá condenar os demais envolvidos. Pecou, então, o Procurador Geral. 

 De lá para cá, já se passou algum tempo. Foram ouvidas testemunhas de defesa, e, no último dia 8, o STF recebeu as alegações finais dos acusados. 38, e não mais 40, uma vez que Silvinho Pereira (PT) fez um acordo, o qual lhe foi possível se safar do processo que recaia sobre suas costas, no mesmo instante em que um dos acusados falecia. 

 Das alegações finais, contudo, se podem subtrair pérolas fantásticas. Tal como a que se lê no documento de defesa de Marcos Valério: “Não há prova do mensalão, história inventada pela imaginação fértil do ex-deputado Roberto Jefferson”; ao mesmo tempo em que se depara com a seguinte confissão de José Dirceu: “... a secretaria financeira do PT agia com plena autonomia”. Com isso, o ex-chefe da Casa Civil tenta rebater a acusação de que ele controlava a agremiação petista; enquanto Delúbio Soares (PT) diz nunca ter “oferecido propina” e José Genuíno (PT), alega inocência e chama de “pai da mentira” e “verdadeiro bufão” o delator do mensalão, Roberto Jefferson (PTB), o qual reforça o pedido de que o ex-presidente Lula deveria ser incluído no processo. 

 São trechos não de uma mesma peça jurídica. Embora eles, os trechos, possam parecer que são. Pois todos caminham em uma única direção, a saber: destruir a sustentação jurídica de que o mensalão existiu. Daí o uso de sofisma, com o fim de construir um retrato plástico, já que a realidade não produz enredos perfeitos. 

 Explicam-se o falseamento e a inversão das cenas reais. Mãos habilidosas também escamoteiam o óbvio, enquanto deixam escapar – propositadamente – um desenho todo maquiado, irreal. Resta saber se os julgadores irão aceitar as “teses” cuidadosamente construídas. Isso sem falar da pressão. Esta, aliás, bastante real, a começar por toda uma movimentação de homenagens para algumas figuras do mensalão. É esperar para ver. Façam, portanto, suas apostas. O ano vindouro já bate à porta. Prejuízos eleitorais podem ocorrer. Razão para jogar a sentença bem lá para frente. Eis, aqui, o que deve acontecer. Tempo suficiente para caducar os crimes previstos. Retrato fiel do “país do jeitinho” e da realidade “vendida” como falsa.     

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 


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